segunda-feira, 8 de março de 2021

ATIVIDADE DA 2ª SEMANA: de 08 a 12 de mar.:

INSTRUÇÃO: LEIA O TEXTO ABAIXO, E, EM SEGUIDA, FAÇA O QUE SE PEDE AO FINAL DO MESMO:

Do mundo do centro da Terra ao mundo de cima 

Povo Munduruku (Mito Tupi)

O CRIADOR DE TUDO


    No antigo tempo da criação do mundo com toda sua beleza, os Munduruku viviam dispersos, sem unidade e guerreando entre si. Esta era uma situação muito ruim que tornava a vida mais difícil e indócil. Foi aí que ressurgiu Karú-Sakaibê, o Grande Criador, que já havia realizado tantas coisas boas para este povo.

    Contam os velhos que foi ele quem criara as montanhas e as rochas soprando em penas fincadas no chão. Eram também criações dele os rios, as árvores, os animais, as aves do céu e os peixes que habitam todos os rios e igarapés.

    Karú-Sakaibê, tendo percebido que o povo que ele criara não estava unido, decidiu voltar para unificá-lo e lembrá-lo como havia sido trazido do fundo da terra quando ele decidiu enfeitar a terra com gente que pudesse cuidar da obra que criara.

    Assim contam os velhos sobre a vinda dos Munduruku ao mundo de cima: Karú-Sakaibê andava pelo mundo sempre em companhia de seu fiel amigo Rairu, que embora fosse muito poderoso, gostava de brincar e se divertir. Um dia, Rairu fez uma figura de tatu juntando folhas, gravetos e cipós. Era uma imitação perfeita. Tão perfeita que o jovem brincalhão resolveu colá-lo com resina feita com cera de mel de abelha para que seu desenho nunca desaparecesse. Para secar a resina Rairu enterrou seu "tatu" embaixo da terra deixando apenas o rabo para fora. Porém, quando ele tentou, depois de algum tempo, retirar sua mão do rabo não conseguiu, pois a resina havia secado e ele ficara grudado no rabo do tatu.

    Como Rairu tinha um grande poder, deu vida ao desenho e este, em vez de querer sair do buraco, foi adentrando-se cada vez mais, carregando consigo o pobre rapaz preso ao seu rabo. Por mais que tentasse se soltar não conseguia. O tatu-desenho foi cada vez mais fundo e quando chegou ao centro da terra, Rairu encontrou muita gente que por lá morava. Tinha gente de todo jeito: algumas eram bonitas, outras eram feias; algumas eram boas e outras eram más e preguiçosas.

    Rairu ficou tão impressionado com aquilo que decidiu sair rapidamente do buraco para contar a Karú-Sakaibê, que já devia estar preocupado com sua demora. E estava mesmo. Karú irritou-se tanto com seu companheiro que decidiu castigá-lo, batendo nele com um pedaço de pau. Para se defender o jovem contou sua aventura ao centro da terra e como ele havia encontrado gente lá. Estas palavras chamaram a atenção de Karú, que decidiu trazer toda esta gente para o mundo decima.

    Rairu ainda perguntou como poderiam fazer isso se eles estavam tão longe. O herói criador nem sequer deu ouvido ao jovem. Começou a fazer uma pelota e enrolá-la na mão. Em seguida jogou a pelota no chão e imediatamente nasceu um pé de algodão. Colheu, então, o algodão e com suas fibras fez uma corda que passou na cintura de Rairu e ordenou que fosse ao centro da terra buscar as pessoas que ele vira.

    Rairu desceu pelo mesmo buraco do tatu. Quando chegou reuniu todo mundo e falou das maravilhas que havia no mundo de cima e que queria que todos subissem pela corda para conhecer este novo mundo. Os primeiros a subir foram os feios e os preguiçosos, porque estes imaginavam que iam encontrar alimento com muita facilidade nunca mais precisariam trabalhar. Depois subiram os bonitos e formosos. No entanto, quando estes últimos já estavam quase alcançando o topo, a corda arrebentou e um grande número de gente bonita caiu no buraco e permaneceu vivendo no fundo da terra.

    Como eram muitos, Karú- Sakaibê quis diferenciá-los uns dos outros. Para que uns fossem Munduruku, outros Mura, arara, Mawé, Panamá, Kaiapó e assim por diante. Cada um seria de um povo diferente. Fez isso pintando uns de verde, outros de vermelho, outros de amarelo e outros de preto.

    No entanto, enquanto Karú pintava um por um, os que eram feios e preguiçosos adormeceram.

    Esta atitude das pessoas feias irritou profundamente o herói criador. Como castigo por sua preguiça, Karú-Sakaibê os transformou em passarinhos, porcos do mato, borboletas e em outros bichos que passaram a habitar a floresta.

    No entanto, àqueles que não eram preguiçosos ele disse: 

    - Vocês serão o começo, o princípio de novos tempos e seus filhos e os filhos de seus filhos serão valentes e fortes.

    E para presenteá-los por sua lealdade, o grande herói preparou o campo, semeou e mandou chuva para regá-lo. E tão logo a chuva caiu nasceram a mandioca, o milho, o cará, a batata-doce, o algodão, as plantas medicinais e muitas outras que servem, até os dias de hoje, de alimento para esta gente. Ainda os ensinou a construir os fornos para preparar a farinha.

    Contam nossos avós que foi assim que Karú-Sakaibê transformou a grande nação Munduruku num povo forte, valente e poderoso... 

(MUNDUKURU, Daniel. Contos Indígenas Brasileiros. São Paulo: Global Editora, 2005. p. 8-12)


GLOSSÁRIO

Munduruku: Significa Formigas Gigantes ou Compridas por ser conhecido como um povo guerreiro e poderoso. Está presente nos estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso, totalizando aproximadamente 12 mil pessoas. Seu contato com a cidade já é de 250 anos e, apesar deste contato antigo, mantém sua cultura e tradição através de rituais e de sua língua. (Usam a língua Munduruku, do tronco Tupi) 

Karú-Sakaibê: É dessa forma que o povo Munduruku denomina seu herói criador e civilizador. 

Rairu: Era o fiel companheiro de Karú-Sakaibê, uma espécie de assistente na obra da criação. 

Igarapé: Significa pequeno córrego. São braços de um grande rio, onde normalmente estão localizadas as aldeias Munduruku. 

Cará: tipo de tubérculo (batata) comestível.

Mura, Mawé, Arara, Panamá, Kaiapó: Denominação de alguns povos indígenas que são vizinhos dos Munduruku.


APÓS TER LIDO O TEXTO ACIMA, RESPONDA:

1) Você acha que o povo munduruku tem razão em dizer que todos fomos trazidos do fundo da terra? Justifique a sua resposta.

2) Você acha que os mundurukus estão certos ao afirmar que deveríamos cuidar da obra que foi criada? Justifique a sua resposta.

3) Quais são as diferenças entre este tipo de narrativa, e, por exemplo, a teoria do Big Bang?

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